2023 - Fortaleza está linda

Fortaleza está linda

 

Em outubro de 2021 eu viajei para Natal, no Rio Grande do Norte, sem saber que estava com COVID. Participei do Campeonato Brasileiro Master de Natação, infectado e quando retornei para casa fui internado no hospital onde fiquei no CTI por 30 dias. O processo de recuperação foi longo e muito lento. Acho que demorei uns seis meses para voltar a nadar com certa segurança. No entanto eu precisava voltar a competir, mesmo que com cuidado, para poder fazer um teste pessoal. Quando, finalmente, o médico me liberou, em dezembro de 2022, para fazer qualquer coisa eu então me inscrevi na competição Master Mais Mais (para nadadores com mais de 50 anos) que iria ocorrer em Fortaleza.

Sandrinha, minha eterna companheira de inúmeras viagens, ficou animada e partimos então para Fortaleza no dia 16 de março de 2023. Fizemos uma reserva no Hotel Serea, situado na Praia do Meireles e de onde poderíamos ir a pé para a competição que seria no Clube Militar de Fortaleza. A sorte começou quando no voo lotado da Latan não tinha ninguém sentado na nossa fileira.

O Hotel Serea tem 20 andares com 11 quartos em cada andar, ou seja, pelos meus cálculos, seriam 220 quartos, e estava lotado. O primeiro problema foi que um elevador estava escangalhado, e assim ficou pelos quatro dias que por lá ficamos hospedados. Além disso, no quarto não tinha toalhas e a televisão não estava funcionando. Fomos transferidos para outro quarto no 8º andar.

O outro azar foi que choveu o dia todo quando chegamos e fomos então passear no imenso Shopping Iguatemi, que daria banho em tamanho a qualquer Shopping de Niterói e talvez do Rio. Matamos a saudade do restaurante Coco Bambu, e caminhamos nesse dia 8 quilômetros.

Na sexta-feira acordamos para o café da manhã e todos os hospedes do hotel também tiveram a mesma ideia e claro um elevador era insuficiente para a demanda dessas pessoas famintas. Descemos dez andares de escada para tomar o café da manhã.

Não estava chovendo e a minha prova nesse dia seria os cem metros medley às 19 horas. Caminhamos até o clube para ver a situação e fomos depois andando pelo magnífico litoral da praia de Meireles até a praia de Mucuripe onde fica o mercado de peixes.

O litoral foi totalmente reurbanizado e as barracas da tradicional feirinha passaram a ser lojas fixas, foram construídos ciclovias, calçadões, píer, e restaurantes, que nos causaram surpresa pois estávamos a seis anos sem ir a Fortaleza.

Outra coisa interessante em Fortaleza é a educação do povo, todos muitos cordeais e educados. Nos sinais de trânsito as motos, por exemplo, respeitam os sinais vermelhos, o que nunca acontece em Niterói, onde os motoqueiros fazem o que bem entendem.

A minha vontade de voltar a competir e tirar a prova de que isso realmente era possível, aconteceu na sexta feira dia 17 de março de 2023. A competição anterior foi em outubro de 2021, ou seja, eu estava a mais ou menos um ano e meio sem competir e depois de passar por momentos muito difíceis, onde a minha morte foi inclusive aventada pelos médicos. O pneumologista me falou que quando ele viu o meu exame após eu sair do hospital, pensou que eu nunca iria voltar a nadar pois os pulmões estavam muito comprometidos. No entanto, com muita fisioterapia, pilates, andanças, e claro retornando com muita calma à minha natação, o quadro foi mudando até que incrédulo o pneumologista me liberou para fazer o que eu quisesse, inclusive, claro, voltar a competir.

Eu nadei os 100 metros medley (quatro estilos) sem forçar e acabei ficando em segundo lugar o que me deixou extremamente satisfeito pois eu não estava pensando em colocação, mas sim em voltar a nadar bem. Quando terminei a prova fiquei muito emocionado e agradeci a todos aqueles que rezaram pela minha saúde em todos os momentos críticos pelos quais tinha passado. E não foram poucas, foram mais de 200 pessoas pelo consegui levantar.

No sábado de manhã eu nadei os 100 metros costas e o milagre voltou a acontecer pois consegui ficar em primeiro, numa vitória onde fiquei menos de um segundo na frente do segundo colocado. Eu tinha finalmente provado a mim mesmo que poderia voltar a nadar em competições de natação, mesmo que sem o mesmo desempenho anterior.

No Clube Militar eu encontrei com Assis, morador de Fortaleza, e amigo de vários anos, pois nos encontramos em inúmeras competições pelo Brasil e pelo mundo. Junto com ele estava um senhor idoso de 89 anos que iria nadar a mesma prova que nós, ou seja, os cem metros costas.

- Emerson esse é o Bill Rola – falou Assis me apresentando ao senhor, cujo nome completo era Antero José de Moraes Rola.

Eu já tinha ficado impressionado no dia anterior ao ver o Bill Rola nadar os 200 metros livres com 89 anos. Na verdade, ao ver esses nadadores mais idosos nadando eu fico pensando se eu algum dia poderia estar na mesma situação. Esse sempre foi o meu desejo, ou seja, nadar o máximo de tempo possível.

Ficamos brincando com o nome Rola, claro com o apoio do Senhor Rola, que já estava acostumado com esse tipo de gozação. Durante a nossa conversa antes de sermos convocados para nadar o Senhor Rola pediu informações diversas vezes sobre quantas voltas ele teria que dar na piscina para completar os 100 metros de nado de costas.

- Senhor Rola, a piscina é semiolímpica, ou seja, tem 25 metros. Neste caso são quatro chegadas ou duas voltas.

Ele tinha problemas de visão e escutava muito mal, mas, mesmo assim, tinha a coragem de enfrentar uma prova de 100 metros. Aquilo me deixou impressionado.

Quando a nossa série foi chamada coincidiu de o Rola estar junto conosco, eu e o Assis, inclusive numa raia ao lado da minha. Ele nadou na raia um e eu na raia dois. O pessoal mais novo, como eu, o Assis e outros, chegamos antes e eu decidi ficar sentado na borda esperando o Rola chegar. O Assis também estava atento. O problema é que o Rola completou os 100 metros e achou que não tinha ainda terminado e continuou nadando.

- Assis segura a Rola – eu gritei e ele agarrou o pé do Senhor Rola.

O engraçado foi que um dos nadadores falou o seguinte:

- Ué! O nome dele é Rola. Esse aqui se chama Pinto – disso apontando para outro que estava ao seu lado na piscina.

Ou seja, eu nadei junto com um Rola e um Pinto. Que brindaram o meu regresso às piscinas. Ainda bem que eu só soube depois.

Eu estou brincando mas o senhor Antero José de Morais Rola passou naquele momento a ser um dos meus ídolos da natação.

 

 


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